RISCO APLICADO A
INVESTIMENTO EM AÇÕES

Por Henrique Bredda, da Alaska Asset Management



O que se fala e se escreve são fragmentos de raciocínios, fórmulas que não ajudam ou ficam muito longe da realidade.

Muitos repetem mantras, e não pensam no que acabaram de repetir. Parece um verdadeiro mistério, mas não é nada disso. É simples.

Já está razoavelmente difundido que volatilidade de preço da ação, de cota de fundo (média ponderada dos preços), não é risco.

Assim como fundo de crédito privado sem volatilidade na cota tem risco, apesar de Sharpe infinito, FIA (fundo de ações) com volatilidade pode ter baixo risco.

Volatilidade alta do preço de uma ação traz uma única informação: os participantes de mercado estão mudando de opinião muito rapidamente sobre o ativo. Eles estão variando muito de opinião sobre quanto vale. Há muita incerteza, muito medo, pouco entendimento sobre quanto é o valor.

Volatilidade baixa do preço de uma ação traz a informação contrária: os participantes de mercado estão com opinião constante sobre o ativo. Eles estão variando pouco de opinião sobre o quanto vale. Geralmente há pouca incerteza, pouco medo e muito entendimento sobre o quanto vale.

Em investimento em ações, quase tudo que tentam generalizar, dá errado. Muitas coisas são pessoais.

Por exemplo, quando se tenta calcular o fluxo de caixa futuro descontado a um custo de capital para se determinar o valor justo, quase tudo é pessoal. Projeção de fluxo de caixa é pessoal, cada um tem o seu. Custo de capital do acionista - não o da dívida - é pessoal.

Não caia nessa baboseira de CAPM (Capital Asset Pricing Model), senão você vai achar que companhia com beta negativo tem custo de capital abaixo do CDI. CAPM é bom para preencher livro inútil e só. Nada prático.

Quando você calcula o custo do seu capital, você leva em consideração o seu custo de oportunidade e a sua avaliação de risco para o ativo em questão. Cada um tem o seu. E isso muda dramaticamente a relação entre o investidor e o ativo investido.

Exemplo: suponha um investimento em VALE3.

Suponha que João entenda muito de ciclo de commodities, de China, de minério de ferro, e da cultura corporativa da Vale. E Pedro conhece a VALE apenas pelos jornais, relatórios dos analistas e pelo Excel.

A relação do João com a Vale será extremamente diferente do Pedro com a Vale.

Caso o Pedro, que não tem a profundidade de conhecimento que o João tem, não tomar cuidado, ele tem mais chance de se dar mal, de perder dinheiro com a Vale.

Explico.

Vamos supor, hipoteticamente, que o João tenha um custo de capital próprio para investir na Vale de 14 por cento nominal, em reais.

Seria bom que o Pedro, que é mais raso no assunto, tivesse um custo bem maior, de 20 por cento, por exemplo.

Por que isso?

Para o Pedro se proteger DE SI PRÓPRIO. Essa é a jogada.

A Vale ignora o que os investidores "sentem por ela", mas os investidores não são imunes às suas próprias ignorâncias e medos.

Se o Pedro não tomar cuidado e não exigir mais margem de segurança, pois ele entende menos de Vale - o que quer dizer que Vale é MAIS ARRISCADA PARA ELE - ele ficará vulnerável.

Já João pode se dar ao luxo de exigir menos margem de segurança, pois ele entende mais do assunto. É menos vulnerável.

Suponha que João, que entende mais, e Pedro, que é raso, invistam a mesma proporção de seus portfólios em Vale, pagando 50 reais por ação.

Na sequência, sai um relatório de um banco gringo alertando sobre shadow banking na China e possível hard landing da economia chinesa, e Vale3 cai 5 por cento.

João lê esse relatório e o joga no lixo. Entende que é bobagem, que o processo de urbanização secular continua e compra mais um pouco de Vale3.

Pedro, por sua vez, lê esse relatório, revira o estômago, e vende metade da posição a 47,50, nos 5 por cento de queda.

Em uma semana o preço volta para 50.

Pedro deveria ter investido muito menos do que João se tivesse utilizado uma taxa de desconto bem maior, pois Vale é mais arriscada pra ele do que para o João.

Risco não é independente de quem o experimenta. O que é arriscado para um, é moleza para outro.

Portanto, quando se diz que a bolsa não compensou o risco (versus o CDI) num determinado período de tempo, mesmo tendo dado mais retorno, essa é a sua opinião dado o seu estômago.

Aversão ao risco diferente faz duas pessoas diferentes terem opiniões diferentes sobre UM MESMO FATO.

Se a bolsa deu inflação mais 7 por cento ao ano em 50 anos, e a renda fixa deu inflação mais 1,5 por cento ao ano, por exemplo, João pode ter achado que a bolsa compensou o risco e Pedro achado que não.

Nada de errado nisso. É pessoal mesmo. Cada um reage de uma forma diferente frente às oscilações de preço.

Se oscilação de preço te faz "borrar as calças", você precisa entrar com muito mais margem de segurança no investimento.

Mas se oscilação de preço para você é algo natural e muitas vezes apenas termômetro do humor das pessoas, você tenderá a exigir menos margem de segurança do que outros.

Sendo assim, fique sempre atento às generalizações sobre risco. Não são verdades absolutas, são verdades individuais.

Oscilação de preço de ação é risco para alguns, e oportunidade de compra ou de venda para outros. E isso muda tudo. Assim como o custo de capital, risco é individual.

O risco que o mercado vê na MGLU3, por exemplo, é o mesmo risco que a família Trajano enxerga?

O risco é algo único para todos, ou é totalmente diferente dependendo de quem está lidando com ele? Se você entende de um negócio, ele é menos arriscado, menos incerto, PARA VOCÊ, não para todos.


Henrique Bredda

Alaska Asset Management 



Trecho retirado, com autorização do autor, de sua publicação do Twitter (@hbredda), com pequenas adaptações para facilitar o entendimento, como transcrição de abreviaturas.




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